Desde o começo do século XX, o desenvolvimento do sistema educativo brasileiro vem sendo marcado por relações conflitantes entre diferentes grupos sociais. A “elite econômica” brasileira, em sua maioria, era contra a educação pública universal, isto é, achava que os trabalhadores, operários e seus filhos(as) não necessitavam saber mais do simplesmente segurar uma enxada ou apertar um parafuso.
A educação formal, por isto mesmo era um privilégio quase que exclusivo da camada mais abastada da sociedade.
O país foi crescendo. Devido ao crescimento da população e do mercado consumidor, assim como da evolução tecnológica, aumentaram-se as exigências em matéria de escolaridade.
Para a expansão e sobrevivência dessa mesma elite, tornou-se urgente fornecer uma educação melhor, para garantir a qualidade de mão de obra e geração de renda para esse mercado em potencial. Logo, essa mesma elite, a qual antes era conta a universalização da educação pública, tornou-se sua maior defensora.
Mas, o que foi interessante para a burguesia no passado, pode ser considerado desnecessário e até perigoso, no futuro.
É expressivo desse fenômeno a reportagem da revista VEJA (Edição . 2236 - 28/09/2011 - Pg.93) que diz:
"Ensino obrigatório de Filosofia e Sociologia nas escolas públicas: Em vez de empreender um esforço para melhorar o quadro lastimável da educação brasileira, o governo se empenha em tornar obrigatórias disciplinas que, na prática, só vão servir de vetor para aumentar a pregação ideológica de esquerda, que já beira a calamidade nas escolas."
Tal revista apresenta uma visão generalista, que representa o autoritarismo de alguns grupos da sociedade, que pretendem silenciar a expressão de outros grupos considerados de "esquerda".
Infelizmente, para alguns setores da nossa sociedade que se sentem/dizem "Elite" não é importante que os estudantes pensem criticamente. Mas o que é não ser ideológico? Pensar como a revista VEJA: a dita “expressão da verdade” e da razão?
Como se sabe, conhecimento é poder, e para alguns, é interessante ter uma multidão facilmente subserviente. É exatamente o que querem da população: quanto mais ignorância para eles é melhor!
É interessante lembrar: o regime ditatorial militar havia retirado as disciplinas de Filosofia e Sociologia do currículo do país, usando exatamente o mesmo argumento. Em 1964 há o advento do regime militar, que interrompeu brutalmente as expectativas suscitadas no país pelas campanhas de educação popular. Esse regime tentou implementar uma política educativa tecnicista, centrada nos conceitos de racionalidade, eficiência e produtividade.
Essa orientação, inspirada principalmente pelos acordos entre o Ministério da Educação e a Agência Americana de Ajuda ao Desenvolvimento (US-AID), foi combatida pela maioria dos educadores brasileiros, que não hesitaram em recusar o caráter autoritário do regime e de sua proposta pedagógica, segundo grande educador Demerval Saviani.
Somente após a luta por vários anos, feita pelas organizações sociais, pelos intelectuais, educadores e ativistas foi que gradativamente a Sociologia e a Filosofia voltaram aos currículos escolares e à mente dos estudantes, sendo hoje matéria cobrada nos vestibulares das melhores universidades públicas.
Regime militar e VEJA... Porque a relação não me soa estranha?
Não é de se estranhar que enquanto várias publicações impressas foram proibidas de circular na ditadura, a revista Veja tenha continuado. Fazendo apologia ao "milagre brasileiro", escondendo a tortura. Sendo contra a anistia e o movimento das "Direta Já" e o impeachment de Collor até onde pôde.
Sua capacidade de desmerecer e procurar criminalizar os movimentos sociais, os quais tornaram este país mais livre e melhor é sintomático. VEJA prefere uma ditadura de direita, mais lucrativa para ela, do que aulas e professores que conscientizem e questionem a realidade na qual os alunos vivem.
Paulo Freire dizia que se percebe o quanto se está dominado quando aquele que é dominado repete o discurso do dominador. A revista Veja se gaba de ser câmara de eco da classe dominante. E como tal, é contra aqueles que buscam quebrar a hegemonia ideológica. Dai, talvez sua posição contra o ensino das disciplinas de Sociologia e Filosofia. O discurso de melhoria da educação seria mera cortina de fumaça.
Me pergunto qual será o próximo passo da revista Veja: combater o “abusivo” e “inútil” ensino de Matemática para os trabalhadores(as), para que estes(as) não questionem o quanto ganham. Ou tirar a “danosa” disciplina de História, para que não se saiba o quanto este país foi explorado.
Se você concorda que as disciplinas de Sociologia e Filosofia são importantes para a educação brasileira, na conscientização e na vida do estudante, passe este texto adiante e informe isto à revista Veja .
Max Laureano
Professor de Inglês, tradutor e colunista.
Numa coisa estamos de acordo. Numa país que só tem escória não de deve abrir blog com e-mail, pois, o maluco que fizer terá caixa lotada de tudo quanto não presta em menos de meia hora.
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