Caro leitor (a), se você acredita que há igualdade e democracia racial no Brasil, não leia este texto, pois ele vai criticar duas instituições seculares: a Caixa Econômica Federal, e o racismo brasileiro.
Alguns fatos:
Fato 1 : Por 388 anos, houve um regime escravocrata no Brasil. De 1500 até 1888, o Estado brasileiro permitia legalmente que o individuo negro fosse sequestrado, escravizado, torturado, mutilado, estuprado(a) e morto, posto que era encarado legalmente como mercadoria, no maior, mais cruel e longo sistema de escravidão das Américas. Fato este amplamente documentado historicamente.
Fato 2: o escritor Joaquim Maria Machado de Assis (Rio de Janeiro, 21 de junho de 1839 — Rio de Janeiro, 29 de setembro de 1908) foi um escritor brasileiro, amplamente considerado como o maior nome da literatura nacional. Testemunhou a mudança política no país quando a República substituiu o Império e foi um grande comentador e relator dos eventos político-sociais de sua época, Seus pais foram Francisco José de Assis, um mulato que pintava paredes, e Maria Leopoldina da Câmara Machado, lavadeira açoriana. Logo, o Bruxo do Cosme Velho, apelido de Machado, era um negro mulato. Fato este também amplamente documentado historicamente em várias fotos e pinturas.
Reza a lenda que contra fatos não há argumentos, correto, você ai, que ainda lê este "amontoado de disparates"?
Mas, parece que os fatos podem ser mudados, deturpados, por uma questão de racismo, como no caso, por exemplo, do governo brasileiro, o qual por meio de Ruy Barbosa destruiu vários registros e documentos relativos à escravidão, o que torna hoje uma missão quase impossível para qualquer brasileiro provar legalmente que seu avô ou bisavô tenha sido escravo. A coisa foi pior, pois, tentou-se com esta ideia de "destruir documentos" apagar a memória social. Ato este com o qual parte substantiva da elite intelectual e literatos da época colaboraram, assim como alguns de seus seguidores ainda o fazem.
Porém, como apagar a memória de Machado de Assis? Eis que surge a Caixa Econômica Federal, “uma nuvem negra a toldar a sua paz doméstica" além-túmulo.
Está no ar a campanha comemorativa pelos 150 anos da Caixa Econômica Federal, em que Machado de Assis é “revisto”. O comercial criado pela empresa de publicidade BorghiErh/Lowe viaja no tempo para mostrar que até os "imortais" foram correntistas da empresa. O problema é que o ator que representa o escritor é branco, sendo que Machado, como já afirmado, era mulato.
O que nos leva a pensar, ou a CEF é racista, ou está muito mal assessorada em termos de comunicação social. Há pessoas que defendemteer sido uma "falta de conhecimento" dos produtores... Mas foi feita uma campanha supostamente "histórica" da trajetória do banco e não faz nenhuma pesquisa mínima sobre um personagem tão importante da História brasileira. Para mim é IMPOSSÍVEL alguém chegar à idade adulta e afirmar que não sabe que Machado de Assis era negro! Onde estava a direção de pesquisa dessa peça publicitária? Pesquisaram vestimenta, mobiliário e arquitetura de época, mas não fizeram nenhuma pesquisa sobre quem era o personagem principal? Se trabalhassem com pouca verba, talvez houvesse desculpa aceitável para tamanho engano. Mas, só em publicidade a Caixa queima quase um bilhão de reais por ano.
Você ai que ainda está lendo: já viu uma foto do Machado de Assis, não? Não é questão de descendência, é questão de cor de pele mesmo, Machado era negro, negro de cor mesmo, não de descendência, qual o problema nisso? Porque retratá-lo como branco em uma ação comercial com tamanho alcance?
Eu já havia me indignado quando a Caixa Econômica Federal mostrava um negro escravo comprando a "liberdade" com o dinheiro depositado na CEF. Esta parece se orgulhar de ter lucrado com o trabalho escravo, diretamente, por meio do dinheiro depositado por escravos de ganho para a compra de alforrias. Eles querem que as pessoas considerem uma atribuição louvável desse banco fazer alguém trabalhar até quase a morte, para COMPRAR sua liberdade, que nunca deveria ter sido retirada.
Confesso que após assistir tal propaganda decadente e imoral, chorei de raiva e indignação.
O Prof.Dr.Dennis Oliveira (ECA/USP) chama de minorização o processo pelo qual o negro, parcela significativa da população brasileira, seja representado na mídia como uma minoria (sempre isolado ou rodeado de vários brancos).
Mas, alerta o músico e servidor público Andre Felippe, no caso da CEF, é mais racista ainda. Isto porque um personagem histórico notoriamente não branco foi representado por um ator branco. Para eles, o jogo aqui não tem um caráter só ético e étnico, mas, estético, a Mídia não divulga o negro nos seus sucessos catedrático/científico/tecnológico e quando cita um negro de sucesso cultural/acadêmico o tinge de branco.
Fica bastante evidente a intenção de APAGAR e EMBRANQUECER a leitura da História do Brasil, por parte da Caixa. Nos moldes do que já foi feito em várias outras situações, vide Canudos, etc etc ...
A Caixa argumentou através de sua assessoria de imprensa, que "o banco sempre se notabilizou pela sua atuação pautada nos princípios da responsabilidade social e pelo respeito à diversidade. Portanto, a Caixa sempre busca retratar em suas peças publicitárias toda a diversidade racial que caracteriza o nosso país." Apesar do posicionamento, a empresa não informou se fará alguma modificação no filme. O comercial é veiculado em TVs abertas e fechadas, cinemas, e a campanha são compostos também por anúncios para revista e jornal.
Eu vou boicotar a Caixa Econômica Federal, enquanto ela não se retratar publicamente, da mesma forma que publicamente manchou a imagem de Machado de Assis e tantos outros negros e negras.
Faça como eu: Informe que Machado de Assis NÃO É branco:
http://www1.caixa.gov.br/ouvidoria/index.asp
Caso você tenha se indignado com mais esse absurdo, e não crê na “democracia racial” brasileira passe este texto adiante.
Max Laureano
Professor e escritor.
vídeos da caixa
http://www.youtube.com/watch?v=NWwUSpG2Pv4
links de sua ouvidoria para reclamação
links de sua ouvidoria para reclamação
http://www1.caixa.gov.br/ouvidoria/index.asp
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