terça-feira, 4 de outubro de 2011

Lingeries HOPE acha que incentivar a prostituição e a violência contra as mulheres é “brincadeiras, piadas do dia-a-dia”


Um país como o Brasil tem muito que caminhar em termos de proteção à saúde e direitos da mulher. Segundo Iara Amora, do Núcleo de Mulheres Jovens da CAMTRA ( Casa da Mulher Trabalhadora ), " A Lei Maria da Penha deu visibilidades aos casos de violência contra a mulher, porém sua efetividade ainda é falha. Há casos de mulheres que vão a delegacia 5, 6 vezes... denunciam o seu companheiro e voltam para casa ainda desprotegidas." . Além disso, você sabe, eu sei que há milhares  que não vão a publico,  não chegando à delegacia.ao vizinho sequer
Como toda lei no Brasil, há leis que pegam e outras que não, a depender dos interesses da classe e do gênero dominante. Mas basta ler os jornais e se percebe um aumento nas noticias de violência contra a mulher, que a mentalidade tacanha machista brasileira não se muda de um dia para o outro.
A legislação brasileira, uma das mais machistas do mundo tem mudado aos poucos, a partir das lutas dos movimentos sociais, em especial o das mulheres É importante lembrar que estamos em um país no qual não fazem dez anos que o seu código civil foi modificado.. Para se ter uma ideia, Enquanto o Código Civil de 1916 faz referência ao "homem", o código em vigor emprega a palavra "pessoa"
Você caro leitor, talvez não se lembre da alegação de vários assassinos de mulheres que usavam a legitima defesa da honra para saírem ilesos, como o caso do cantor Lindomar Castilho, na década de 70, por exemplo,
Infelizmente, há exemplos mais recentes e cruéis de violência contra a mulher: o marido que escreveu seu nome no corpo da esposa com faca quente, o professor universitário de direito, o qual matou a namorada (casada) por ela se recusar a continuar a ter um caso com ele.
E mais e mais casos pipocam pelo país afora. Sendo que não há apenas a violência corporal, existem milhões de formas de violências sem ser a física Todos têm como origem o pensamento retrogrado machista brasileiro, o qual considera a mulher como inferior.
Bom, vocês já devem ter visto o comercial estrelado por Gisele Bündchen, de uma marca de lingerie, não é?
 Pipocaram aqui e ali algumas discussões sobre o comercial estrelado por Gisele Bündchen, de uma marca de lingerie, HOPE. Na peça, a modelo "ensina" como as mulheres devem comunicar más notícias para seus maridos/namorados. Falar que bateu o carro ou que estourou o limite do cartão de crédito (oi?) vestida não dá certo. Ou, traduzindo, fazer o uso do corpo como passaporte para se safar de situações difíceis e não criar problema
A pedida é mostrar o corpão na hora de comunicar ao macho provedor que você, mulher, não se comportou como ele gostaria.
Agora é hora de um pequeno exercício de imaginação, isto é, continuar a cena em que a notícia é dada quando a modelo está vestida. Se o filme sugere que o melhor é fazer isso pelada, é porque algo aconteceria se ela estivesse com roupas (ou fosse baixinha, gordinha e morena). O homem poderia ficar chateado, dar uma bronca e, quem sabe, até gritar com a pobre acidentada. Na vida real, isso acontece, o que já é bizarro, mas acontece mais, e pior. Acontecem agressões.
Pois como está registrado em qualquer delegacia de atendimento á mulher no país afora, qualquer motivo pode ser o estopim de violência doméstica, basta ser desagradável ao macho provedor.
Ao brincar com os tradicionais padrões do machismo nativo, onde uma loira escultural se fazendo de vítima – especialmente em peças íntimas – consegue o que quer, a agência provocou a atenção da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM). Sob a alegação de que recebeu “reclamações de indignação” a respeito da propaganda, o zeloso órgão público enviou ofícios ao Conselho de Autorregulamentação Publicitária (Conar), pedindo a suspensão da propaganda, e também à companhia, manifestando seu repúdio à campanha.
Coube a empresa HOPE soltar uma nota sobre a campanha alegando que “a propaganda teve o objetivo de mostrar, de forma bem-humorada, que a sensualidade natural da mulher brasileira, reconhecida mundialmente, pode ser uma arma eficaz no momento de dar uma má notícia.
Mais à frente, a Hope recorre a um argumento absurdo: “Foi exatamente para evitar que fôssemos analisados sob o viés da subserviência ou dependência financeira da mulher que utilizamos a modelo Gisele Bundchen, uma das brasileiras mais bem sucedidas internacionalmente. Gisele está ali para evidenciar que todas as situações apresentadas na campanha são brincadeiras, piadas do dia-a-dia, e em hipótese alguma devem ser tomadas como depreciativas da figura feminina”.
Infelizmente, se a fabricante de lingeries HOPE acha que incentivar a prostituição e a violência contra as mulheres é “brincadeiras, piadas do dia-a-dia” em não acho. Não tem em absoluto nada de engraçado.
Há que se fazer algo e rápido, pois percebo um aumento na violência velada contra as mulheres como uma contrapartida pela lei Maria da Penha. E essa campanha da HOPE só contribui para diminuir a mulher e suas conquistas.
P.S: A agência que criou as peças é a Giovanni+DraftFCB. Eles merecem ser expostos também.

Um comentário:

  1. Quando uma grande empresa faz questão de destacar na mídia oficial somente "a sensualidade da mulher brasileira", como podemos reclamar quando estrangeiros chegam aqui em busca de turismo sexual?

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