quarta-feira, 25 de julho de 2012

Sobre o domínio do Crack e as políticas públicas







Sobre o domínio do Crack




Karl Marx,  pensador do século XIX, ao analisar a sociedade capitalista de sua época, classificou as divisões entre burgueses e proletariado, operários a patrões.
Mas dizia também haver o Lumpém-proletariado, isto é, os trabalhadores desempregados, que andavam pelas ruas, passando fome, a procura de emprego.
Marx não chegou a conhecer os viciados em Crack, que no meu entender estão em situação aguda de desamparo social, indo mais fundo na escala do lumpesinato, pois o que define o Lumpém é sua mobilidade social, podendo, e desejando deixar o que Marx chamava de “exército industrial de reserva”, ao conseguir um emprego.
Ninguém duvida que o crack, é hoje um grave problema social e de saúde. E por ser grave, necessita de soluções rápidas e efetivas, acompanhadas de revisão urgente da política de drogas vigente, pois as medidas assistenciais específicas não estão disponíveis.
O         crack, devido a sua facilidade de ser encontrado, e sua acessibilidade às pessoas de baixo poder aquisitivo, faz dele atualmente substância mais procurada entre as demais drogas. Seu formato é de pedra e custa menos do que a cocaína em pó, por ser um derivado mais grosseiro, obtido da mistura da pasta com bicarbonato de sódio.
Ele alcança o pulmão, o qual absorve imediatamente a fumaça aspirada,  encurtando o caminho para chegar ao cérebro, surgindo os efeitos da cocaína muito mais rápido do que pelas vias nasal e endovenosa.
Segundo estudos do CEBRID – Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas de 2003, o usuário tem a tendência de querer doses maiores em busca de efeitos mais intensos. Porém, tais doses maiores levam a um comportamento violento, irritabilidade, tremores e atitudes bizarras, devido ao aparecimento de paranóias (noia para os viciados).
Medo e desconfianças crescentes, são consequências desse estado que leva os usuários a situações de extrema agressividade. Alucinações e delírios podem aparecer e completar um quadro que é conhecido como “psicose cocaínica”.
Quando sob o domínio do crack, muitos viciados se isolam e, mesmo que temporariamente, se tornam indigentes. A substância transforma o usuário e o mantém arredio, impossível de manter relações com parentes e amigos, chegando a afastá-lo do trabalho. Em alguns casos a degradação pode dar-se em poucas semanas.
O usuário emagrece rapidamente, já que a cocaína inibe o apetite; fica sem dormir, deixando de lado a higiene pessoal. À medida que o consumo de crack progride, chega a fase das reações paranóicas. O viciado acha que está sendo perseguido e tem pensamentos obsessivos – vem daí o apelido de “noia” ou “noiado” que esses dependentes carregam.
         Os que se vê nas ruas em Bonsucesso, no Rio de Janeiro, em São Paulo, são viciados, frutos da degeneração capitalista, que já não procuram emprego, vivendo da mendicância, até o momento final.
É uma droga que causa dependência e danos físicos rapidamente e que apesar dos indícios do uso entre pessoas da classe média, afeta mais diretamente populações mais vulneráveis.
E o resultado: filhos gerados em meio ao vício, abandonados, não raras vezes doentes! Filhos da degradação humana, da humilhação e indignidade no seu limite máximo!Onde estão as políticas públicas para essas crianças ignoradas, invisíveis?Onde?
Essa questão é bem interessante. Sim, as conformações e condicionantes sociais atuam sobre os indivíduos, mas temos em uma mesma família e grupo social pessoas que se desviam para o caminho do crime, das drogas, da dissolução, e outras que não o fazem - o que comprova a existência de algum componente individual nas escolhas e no destino de cada um. Claro que há uma correlação entre drogas baratas e usuários pobres, assim como há entre drogas caras e usuários ricos, correlação essa que às vezes se inverte, por ironia do acaso.
No capitalismo e, na nossa democracia normativa de mercado muitos não podem, simplesmente, serem senhores do seu destino. Não se escolhe viver na encosta do morro, sem água ou saneamento e sobreviver de subempregos como não se escolhe - pelo menos a maioria dos drogadictos - entre usar esta ou aquela droga ou não usar. É uma questão de excessiva oferta - de drogas - combinada com a falta de escolhas ou perspectivas. Elas muitas vezes estão incorporadas as comunidades - junto com o trafico  e o crime - como a ausência e omissão do Estado - a não ser pela policia. Numa tradição avessa a democracia, autoritária e subserviente aos senhores e/ou poderosos do dia, a corda sempre vai arrebentar do lado mais fraco - indivíduo e sociedade. A escala deve ser invertida na hierarquia de responsabilidades com relação ao problema do crack e das drogas pelo simples motivo de que se trata de uma questão de saúde e segurança públicas.
Por outro lado, é o preconceito e o caráter individualista/personalista da sociedade que simplesmente joga nas costas do indivíduo - a despeito das suas condições - todo o seu destino. Exatamente como fazem os americanos exigindo, conforme os seus padrões e dogmas, que se seja winner ou loser. Se o sujeito for bem sucedido profissionalmente e, sobretudo, materialmente, ou um fracassado, em ambos os casos no discurso e no imaginário social trata-se exclusivamente de questão individual - self made man! Aos vencedores a glória, o prestigio e o status e aos perdedores o desprezo, a lei e as armas!
O avesso dos valores democráticos e de cidadania - senso de responsabilidade publica e social -, de acordo, alias, com o discurso e valores, da ideologia neoliberal do Estado mínimo.
 O crack hoje se impõe como um desafio para as políticas públicas. Não só pela quantidade, uma vez que o número de casos de alcoolismo é bem maior — e ocupa cerca de 70% dos atendimentos dos Centros de Atendimento Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD) — mas porque é preciso encontrar uma nova estratégia de atuação.
Como em sua maioria são trabalhadores, ou filhos destes, o Estado demorou a ter políticas públicas para estes, até perceber que os filhos da burguesia também estão viciados. E os que estão executando nada mais são do que maquiagem, numa pratica higienista lamentável, sumindo com os usuários, dos olhos da classe média assustada.
O crack é uma droga que provoca uma dependência química rápida e devastadora e a forma de tratar com este tipo de usuário está desafiando os setores de atendimento da saúde, educação, assistência social, juventude e segurança. A política de redução danos, que trata o usuário de drogas e álcool ainda durante o uso das substâncias, não se aplica ao crack, pois o viciado não raciocina e dificulta qualquer tipo de abordagem ou intervenção.
Também não é possível acabar com a violência, aumentando o policiamento da cidade, pois isso em nada afeta as causas reais da violência e do consumo da droga, que são as profundas desigualdades sociais em que estão imersos nossos trabalhadores, a falta de moradia, de saúde, de educação de qualidade, o desemprego que coloca a juventude pobre e negra com uma única perspectiva: o tráfico de drogas.
         Hoje é imprescindível a adoção de muito mais investimento na saúde e de uma nova política sobre drogas que descriminalize e trate o usuário e ponha fim à “guerra ao crack”, além de mais investimento na educação em todos os níveis. A sociedade precisa urgente e verdadeiramente se unir para resolver esse grande mal-social Se permitirmos que políticos, e somente eles, tentem encontrar uma solução, estaremos incorrendo mais uma vez no mesmo erro,quando não nos rebelamos quanto a favelização de nossas cidades, e fomos apenas gradeando casas e prédios,na preocupação de nos defendermos da violência,situação da qual hoje somos reféns.
Como e o que fazer, não sei responder, mas discutirmos sobre uma solução, por aqui,já é um bom começo,desde que não fiquemos apenas no discurso e partamos para ação

Maximiano Laureano da Silva


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