quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Um bom poema leva anos


um bom poema leva anos

cinco jogando bola,
mais cinco estudando sânscrito,
seis carregando pedra,
nove namorando a vizinha,
sete levando porrada,
quatro andando sozinho,
três mudando de cidade,
dez trocando de assunto,
uma eternidade,
eu e você, caminhando junto.

Paulo Leminski


Assim como o poema de Leminski, um(a) bom professor(a) leva anos. Pelo menos quatro na faculdade, estudando não sânscrito, mas a matéria a  lecionar, e teoricamente como ser um membro distinto da carreira docente.
Ser professor é antes de tudo ser educador. E ser educador é procurar compreender o mundo que se vive; atuar neste mundo buscando melhorar a educação e as suas condições de vida e as condições dos que estão a sua volta; se indignar com as injustiças; acreditar no ser humano e na sua capacidade de transformação. A tarefa é árdua, mas é melhor do que ver o mundo passar apoiado no parapeito da janela.
Todo professor, quer muito mais do que um salário que lhe garanta dignidade. Todo professor, quer que a educação funcione bem, com profissionais suficientes, qualificados, com material didático e estrutura adequada nas escolas. Quer refeitórios, bibliotecas, laboratórios de informática. Mas isso os governos não garantem em lugar nenhum do Brasil, pois temos uma apartheid educacional: temos uma educação  para a elite, e  outra para o povão!
O sistema educacional é provavelmente o mais influente de todas as instituições – superando a família, a igreja, a política e o governo, ao modelar o crescimento da pessoa humana.
Infelizmente, o governo do estado do Rio de Janeiro parece não concordar com tais informações. Atualmente, um professor graduado recebe R$  750,00 brutos e um funcionário tem piso de 433,00. Isso após todo o tempo de estudo, especialização, preparação e aprovação para o concurso de acesso ao cargo de professor de nível I.  Ao se comparar os custos se nota que é muito mais barato a mão de obra de um trabalhador com altíssima qualificação profissional no Brasil de hoje do que o trabalho de um escravo no final do século XVIII e início do XIX.
Para que se tenha idéia de como a categoria está desestimulada, vejam a tabela abaixo

JULHO/2010



Professores
Funcionários
TOTAL GERAL
Número de dias úteis
Saída por dia útil
EXONERAÇÕES
88
03
91
22
4.13
APOSENTADORIAS
328
73
401
22
18.22
DEMISSÕES
07
----
07
22
0.31
TOTAL
423
19.22 dia
76
3.45 dia
499
22
22.66
dia
LEVANTAMENTO: SECRETARIA GERAL DO SEPE/RJ

Ela lista a quantidade de professores e funcionários que saíram da rede estadual em um único mês, tendo claro que só estão computadas aqueles profissionais que tem seu ‘’’pedi pra sair” publicado no Diário oficial do estado do Rio de Janeiro. Aqueles (as) que simplesmente desaparecem da  sala de aula – os  quais são muitos – , não estão contabilizados. Somente em 2011, 2,4 mil professores pediram exoneração por completa falta de perspectiva de valorização profissional.
A partir disto e revoltados com tal situação, e após infrutíferas tentativas de negociação, que se arrastam por anos, os profissionais da educação do Estado do Rio de Janeiro, em concorrida assembléia, realizada no dia 7 de junho de 2011, decidiram deflagrar greve.
No dia 12, sexta-feira, a categoria decidiu suspender a greve e entrar em estado de greve, aguardando a sanção ou não do governador Cabral da lei aprovada na Alerj na quinta-feira, dia 11, que concedeu 5% de reajuste, a antecipação da parcela Nova Escola de 2012 para 2011, a antecipação total do Nova Escola  para os funcionários, além do descongelamento do plano de carreira também para este setor - tudo retroativo a aposentados e pensionistas da rede. A Alerj também aprovou o abono dos dias parados.
Isso tudo depois do governador Sérgio Cabral dizer que só havia 50 professores em greve no estado, e se recusar a negociar...
Uma das mais bonitas greves da Educação foi suspensa. Conquistou-se, demonstrando sua existência e capacidade de luta. Não abaixaram a cabeça diante de qualquer ameaça de governador, secretário ou direção.
Foram lindos todos os atos,  lindos.
O ato da morte da educação ficará na história do movimento operário e na minha pelo resto da vida. A Avenida Rio branco, a população jogando o papel picado para a gente.  A solidariedade verdadeira no acampamento. Redefinindo e ratificando o sentido da palavra companheiro: "aquele com quem se divide o pão".
Quem passava pelo acampamento montado em. frente à secretaria de educação, na rua da Ajuda, no centro do Rio ficava triste por assistir a insensibilidade do Estado do Rio de Janeiros com a Educação. Triste ao assistir educadores dormindo quase ao relento
            O Cabral pode esperar porque a próxima greve será ainda maior e mais forte. Os ganhos do setor de funcionários, que se sentia mais marginalizado na nossa categoria e pelo nosso sindicato, o enfrentamento radicalizado, o apoio da população, a unidade com outros setores do funcionalismo, o fato da greve ter alcançado a massa da categoria, com índices de paralisação de 50%, 60%, o boicote ao SAERJ,
È importante também lembrar o envolvimento ativo dos estudantes na greve, nas mobilizações, e o papel cumprido pela juventude como um todo, em especial o setor mais jovem da categoria, os novos profissionais, que seguraram em grande medida a greve, nas assembléias, nos atos, na ocupação, no acampamento, e que empurraram a direção do sindicato para uma postura mais resoluta no embate com o governo são conquistas que não se apagarão.      
A galera dos 700,00 mostrou a cara. Da ocupação das reitorias, como a  da UERJ, por exemplo, para a rua da Ajuda. Eles não inventaram a roda, mas com certeza começaram  a fazê-la rodar de forma diferente.
Alem disso, as redes sociais fizeram a diferença nessa greve, pois fizeram, de certa forma, a  contraposição ao que a mídia corporativa burguesa(que recebe milhões de verbas para propaganda do estado), publicava, ou omitia.  Se faz necessário pensar em uma mídia própria pela TV, internet, jornal etc..
Por fim, quero dizer bem alto: Não tenho vergonha de ser professor.  Tenho orgulho da minha categoria.
E quem lutou merece todas as honras, principalmente aqueles (as) professores(as) acampados debaixo de chuva e sol, pra eles todo o meu respeito e admiração. Valeram os  ganhos materiais, e os ganhos morais foram imensos.
Valeu! A luta continua firme e forte!  Vamos juntos!

Max Laureano
Pai, professor e #indignado

email: 
maxlaureano@gmail.com


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