O governo de São Paulo
determinou que as vítimas de crimes graves não poderão mais ser socorridas pela
polícia. O atendimento deverá feito pelo Samu ou pelos Bombeiros. Um dos
objetivos da medida é preservar a cena do crime.
Agora, os policiais que
atenderem casos de lesões corporais, homicídio ou tentativa, latrocínio - roubo
seguido de morte - e sequestro com morte devem chamar o Serviço de
Atendimento Móvel de Urgência, o Samu. Policiais não podem mais socorrer os
feridos por conta própria.
“Com o protocolo de
atendimento você preserva a vida das pessoas feridas, você resguarda o trabalho
policial. Queremos lisura do trabalho policial. Não queremos dúvidas”, afirmou
Benedito Roberto Meira, comandante-geral da PM.
O veto à atuação de
policiais em resgates de vítimas de crimes ou confrontos não prejudica a
população e deve reduzir o número de ocorrências de mortes em São Paulo, aposta
o idealizador da norma, o ouvidor da polícia Luiz Gonzaga Dantas. A prática de
levar feridos para o hospital era tema de denúncias protocoladas junto ao órgão
que recebe queixas de supostas execuções.
“O Estado, pela sua
própria natureza, deve ser transparente. E a ação de seus policiais deve ser
também transparente. O policial, no momento em que está exercendo sua função, é
o Estado que está ali. E havia a desconfiança da população, em denúncias aqui
(na Ouvidoria da Polícia), que mostravam que os policiais tinham feito o
socorro de pessoas com ferimentos leves e, quando chegavam ao hospital, estavam
mortas”, disse Dantas. “Como, por exemplo, uma pessoa que levou um tiro no
braço, era socorrida e quando chegava ao hospital estava morta com três tiros”,
acrescentou.
O primeiro caso aconteceu
já no fim da tarde. Dois rapazes participaram de um roubo na Zona Sul de São
Paulo. Um foi preso. O outro, baleado pela polícia. Os PMs ficaram em volta do
ferido. O resgate dos Bombeiros chegou depois de 23 minutos. O rapaz foi
socorrido com vida.
O atendimento a pessoas
baleadas passa a seguir a mesma regra dos acidentes de trânsito. Se o policial
for o primeiro a chegar, ele não põe a mão na vítima, apenas sinaliza o local,
aciona as equipes de socorro, que vão chegar com equipamentos e prestar os
primeiros socorros. Só depois a vítima vai para o hospital.
O promotor Felipe Levy
Zilberman de Justiça teme que a resolução prejudique as vítimas. “As
autoridades policiais têm o dever de prestar o socorro. Elas não podem se
omitir. A omissão de um policial militar diante de alguém ferido na sua frente
pode configurar um crime”, avaliou ele.
Mas segundo o diretor do Samu na capital, Luiz Carlos Wilke
o impacto da resolução será pequeno na demanda diária. "O policial faz a
'reboqueterapia'. Enfia a vítima na viatura e leva ao hospital mais próximo.
Mas de que adianta levar alguém que levou um tiro na cabeça a um lugar sem
neurocirurgião? Levando o paciente ao lugar certo, horas e horas de atendimento
são ganhas."
Em cinco anos, a PM do
Estado de São Paulo matou quase nove vezes mais do que a polícia
norte-americana.
A escalada no número de
mortos pela PM é acompanhada da onda de violência que se intensificou em
outubro e provocou a queda do secretário da Segurança Pública Antonio Ferreira
Pinto, em 21 de novembro - e sua substituição por Fernando Grella Vieira.
"Acho que se
demonstra claramente a existência de uma política institucionalizada para
matar. É impossível que se tenha tantas pessoas dispostas a morrer em
confrontos com a PM. É preciso checar no que deu a investigação a respeito
dessas mortes", diz o presidente do Conselho de Defesa dos Direitos da
Pessoa Humana, Ivan Seixas.
Em novembro, o servente
Paulo Batista do Nascimento foi cercado e levou dois tiros disparados por
policiais. Em seguida, foi levado dentro do carro da PM. Ele chegou ao hospital
morto e com o sinal de um terceiro disparo.
A socióloga Nancy Cardia,
do núcleo de Estudos da Violência da USP, apoia a medida. “Isso é correto
porque o policial não domina os princípios de primeiros socorros. Mostra que o
governo está interessado em reduzir as ações em que policiais usam da violência
letal.”
A mesma resolução muda a
forma de registro de confrontos entre suspeitos e policiais. Deixa de ser
"resistência seguida de morte", passa a ser "lesão corporal ou
morte em decorrência de intervenção policial".
A mudança busca também
liberar mão de obra de policiais militares para preservar a cena do crime.
"A modificação ajuda a garantir a qualidade das investigações e a evitar
que provas sejam apagadas."
Outro benefício é dificultar
casos de violência cometidos por PMs enquanto supostamente socorrem vítimas.
Como o desvendado pela Corregedoria na sexta-feira, que levou à prisão seis
policiais acusados de executar três jovens depois de serem colocados em uma
viatura.
A proibição do termo
"resistência seguida de morte" é fundamentalmente
"simbólica", segundo Grella. "Sinaliza que estamos dispostos a
investigar, antes de definir que o caso foi uma resistência.
“Quem vai dizer se houve
resistência ou não é investigação, e não nome que se dá no registro da
ocorrência. O que não quer dizer que
policial cometeu homicídio ou lesão corporal. Isso pode ter sido legítimo,
porque nós sabemos que há uma criminalidade violenta que por vezes exige punição
firme da polícia”, disse Fernando Grella Vieira, secretário de Segurança
Pública de São Paulo.
A resolução, segundo o
ouvidor, deve reduzir a letalidade em ocorrências envolvendo policiais, que só
em 2012 somou 506 mortes, ante 438 em 2011. “Acredito que vai aumentar (a
punição de policiais infratores) e diminuir a letalidade. No momento em que o
policial não transporta a pessoa ferida para o hospital, ele vai esperar o Samu
imediatamente chegar para fazer o socorro. Ele não vai mais poder inventar nada
no caminho até o hospital”, disse. A norma publicada não especifica, no
entanto, a quais sanções serão submetidos aqueles que descumprirem a norma.
O governo de São Paulo
determinou que as vítimas de crimes graves não poderão mais ser socorridas pela
polícia. O atendimento deverá feito pelo Samu ou pelos Bombeiros. Um dos
objetivos da medida é preservar a cena do crime.
Agora, os policiais que
atenderem casos de lesões corporais, homicídio ou tentativa, latrocínio - roubo
seguido de morte - e sequestro com morte devem chamar o Serviço de
Atendimento Móvel de Urgência, o Samu. Policiais não podem mais socorrer os
feridos por conta própria.
“Com o protocolo de
atendimento você preserva a vida das pessoas feridas, você resguarda o trabalho
policial. Queremos lisura do trabalho policial. Não queremos dúvidas”, afirmou
Benedito Roberto Meira, comandante-geral da PM.
O veto à atuação de
policiais em resgates de vítimas de crimes ou confrontos não prejudica a
população e deve reduzir o número de ocorrências de mortes em São Paulo, aposta
o idealizador da norma, o ouvidor da polícia Luiz Gonzaga Dantas. A prática de
levar feridos para o hospital era tema de denúncias protocoladas junto ao órgão
que recebe queixas de supostas execuções.
“O Estado, pela sua
própria natureza, deve ser transparente. E a ação de seus policiais deve ser
também transparente. O policial, no momento em que está exercendo sua função, é
o Estado que está ali. E havia a desconfiança da população, em denúncias aqui
(na Ouvidoria da Polícia), que mostravam que os policiais tinham feito o
socorro de pessoas com ferimentos leves e, quando chegavam ao hospital, estavam
mortas”, disse Dantas. “Como, por exemplo, uma pessoa que levou um tiro no
braço, era socorrida e quando chegava ao hospital estava morta com três tiros”,
acrescentou.
O primeiro caso aconteceu
já no fim da tarde. Dois rapazes participaram de um roubo na Zona Sul de São
Paulo. Um foi preso. O outro, baleado pela polícia. Os PMs ficaram em volta do
ferido. O resgate dos Bombeiros chegou depois de 23 minutos. O rapaz foi
socorrido com vida.
O atendimento a pessoas
baleadas passa a seguir a mesma regra dos acidentes de trânsito. Se o policial
for o primeiro a chegar, ele não põe a mão na vítima, apenas sinaliza o local,
aciona as equipes de socorro, que vão chegar com equipamentos e prestar os
primeiros socorros. Só depois a vítima vai para o hospital.
O promotor Felipe Levy
Zilberman de Justiça teme que a resolução prejudique as vítimas. “As
autoridades policiais têm o dever de prestar o socorro. Elas não podem se
omitir. A omissão de um policial militar diante de alguém ferido na sua frente
pode configurar um crime”, avaliou ele.
Mas segundo o diretor do Samu na capital, Luiz Carlos Wilke
o impacto da resolução será pequeno na demanda diária. "O policial faz a
'reboqueterapia'. Enfia a vítima na viatura e leva ao hospital mais próximo.
Mas de que adianta levar alguém que levou um tiro na cabeça a um lugar sem
neurocirurgião? Levando o paciente ao lugar certo, horas e horas de atendimento
são ganhas."
Em cinco anos, a PM do
Estado de São Paulo matou quase nove vezes mais do que a polícia
norte-americana.
A escalada no número de
mortos pela PM é acompanhada da onda de violência que se intensificou em
outubro e provocou a queda do secretário da Segurança Pública Antonio Ferreira
Pinto, em 21 de novembro - e sua substituição por Fernando Grella Vieira.
"Acho que se
demonstra claramente a existência de uma política institucionalizada para
matar. É impossível que se tenha tantas pessoas dispostas a morrer em
confrontos com a PM. É preciso checar no que deu a investigação a respeito
dessas mortes", diz o presidente do Conselho de Defesa dos Direitos da
Pessoa Humana, Ivan Seixas.
Em novembro, o servente
Paulo Batista do Nascimento foi cercado e levou dois tiros disparados por
policiais. Em seguida, foi levado dentro do carro da PM. Ele chegou ao hospital
morto e com o sinal de um terceiro disparo.
A socióloga Nancy Cardia,
do núcleo de Estudos da Violência da USP, apoia a medida. “Isso é correto
porque o policial não domina os princípios de primeiros socorros. Mostra que o
governo está interessado em reduzir as ações em que policiais usam da violência
letal.”
A mesma resolução muda a
forma de registro de confrontos entre suspeitos e policiais. Deixa de ser
"resistência seguida de morte", passa a ser "lesão corporal ou
morte em decorrência de intervenção policial".
A mudança busca também
liberar mão de obra de policiais militares para preservar a cena do crime.
"A modificação ajuda a garantir a qualidade das investigações e a evitar
que provas sejam apagadas."
Outro benefício é dificultar
casos de violência cometidos por PMs enquanto supostamente socorrem vítimas.
Como o desvendado pela Corregedoria na sexta-feira, que levou à prisão seis
policiais acusados de executar três jovens depois de serem colocados em uma
viatura.
A proibição do termo
"resistência seguida de morte" é fundamentalmente
"simbólica", segundo Grella. "Sinaliza que estamos dispostos a
investigar, antes de definir que o caso foi uma resistência.
“Quem vai dizer se houve
resistência ou não é investigação, e não nome que se dá no registro da
ocorrência. O que não quer dizer que
policial cometeu homicídio ou lesão corporal. Isso pode ter sido legítimo,
porque nós sabemos que há uma criminalidade violenta que por vezes exige punição
firme da polícia”, disse Fernando Grella Vieira, secretário de Segurança
Pública de São Paulo.
A resolução, segundo o
ouvidor, deve reduzir a letalidade em ocorrências envolvendo policiais, que só
em 2012 somou 506 mortes, ante 438 em 2011. “Acredito que vai aumentar (a
punição de policiais infratores) e diminuir a letalidade. No momento em que o
policial não transporta a pessoa ferida para o hospital, ele vai esperar o Samu
imediatamente chegar para fazer o socorro. Ele não vai mais poder inventar nada
no caminho até o hospital”, disse. A norma publicada não especifica, no
entanto, a quais sanções serão submetidos aqueles que descumprirem a norma.
Nenhum comentário:
Postar um comentário