Crônica de uma morte de pessoas “matáveis’ anunciada.
Na tradição das políticas de segurança pública (e privada!) existe um conceito que historicamente norteou algumas ações de alguns agentes executores da Lei. Para estes existem pessoas “matáveis’, isto é, são pessoas que podem ser mortas, executadas com a certeza plena de impunidade, e a consciência tranqüila, ao acharem que a sociedade não irá questionar as ações desses agentes de segurança nas favelas e/ou comunidades carentes.
Isto é possível de se ver nos milhares de registros de auto por resistência, e em outras formas de se tornar uma morte cruel, claramente com características racistas, de execuções extrajudiciais em uma peça jurídica, que inocenta e por vezes até promove quem está por trás da arma.
Quantas mães não terão que acordar cedo para levar seus filhos para o colégio, pois alguém que é pago para defendê-los presumiu que o jovem pobre,negro na sua frente merece morrer, ter seus corpo desaparecido até os ossos, só por ele estar numa região pobre?
Quantas mais ossadas de Juan Moraes, de 11 anos terão que ser achadas?
Este menino morto, segundo suspeita-se após uma operação do 20º BPM (Mesquita), na comunidade Danon, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, não vai mais brincar de soltar pipa, nem seus pais irão ver sua formatura, sua futura namorada não vai mais vê-lo jogar bola. Não.
Ele, suspeito eu, era uma “pessoa matável”, para aqueles que o reduziram de uma promessa de futuro a uma ossada escondida.
O que me deixa um pouco menos triste é que talvez aqueles que fizeram essa barbárie talvez se sintam menos inseguros em relação à impunidade, quando escolherem outra vitima, parecida com o menino Juan. Isso por que devido à mobilização de vários setores sociais, de várias formas, as “autoridades competentes” foram forçadas a se mover e solucionar esse crime. Ao se por em um site de busca, as palavras “Juan pm nova Iguaçu” se obtém de resposta 10 páginas com 259.000 resultados.
Isso pode não significar muito, talvez force um refinamento nos métodos de fazer as vitimas desaparecerem, de se calar as testemunhas. Mas, espero eu, que o menino Juan não tenha perdido seu chinelo, sua vida, seu futuro, em vão.
Que a política de determinar quem é matável seja visto como algo execrável, barbárie e repudiada, diminuindo o massacre de pessoas pobres, negras e que haja efetivamente investigação, acompanhada pela sociedade, dos homicídios cometidos pelas polícias, uma melhoria na remuneração e na qualificação dos policiais, perícia técnica com qualidade e independente, concursos públicos permanentes para a renovação do efetivo.
Além disso, se faz necessário a reestruturação dos sistemas de proteção a vítimas e testemunhas, ouvidorias e do sistema prisional.
Maximiano Laureano
Pai, professor e tradutor
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