quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Amores improváveis - XIII. Subjuntivos do mundo.


E se ela existisse. E se ela chegasse. E se de repente, os pássaros cantassem a sua chegada.
E se ele olhasse e a reconhecesse naquela sua pressa que seria só sua. E se ele soubesse ao olhar: "É ela". E se ela dissesse: "Sim, sou!".
E se como uma ideia que se torna realidade, ele segurasse a sua mão, sentisse o calor, a maciez, o carinho fluisse. E se ele olhasse, tímido, e dissesse: " Sua pele é quente,macia, como o toque de amores de Primavera".
E se ela ficasse envergonhada, rubra, com as palavras e atos dele.
E se ele pedisse, ela dançaria. Ele veria sua leveza, seus gestos de bailarina.
E talvez, como uma das três bailarinas de Picasso, ela fosse leve como pluma, obra prima, carne e osso esculpida.
E, se do chão que ela pisasse brotassem versos de perfeita rima.
E se ela, existindo, lembrasse do verso de Neruda:"Te amo e não te amo, como se tivesse em minhas mãos as chaves da fortuna e um incerto destino desafortunado."
E se ele, surpreso, dissesse suavemente, em seu ouvido, uma canção em subjuntivo, por não acreditar em tanta beleza em uma só pessoa:"Se você vier pro que der e vier Comigo, eu lhe prometo o sol, se hoje o sol sair. Ou a chuva...se a chuva cair..."
E se ela, comovida, lágrimas nos olhos dissesse simplismente:"Sim". E, rindo, lembrasse de Zé da Luz, e com olhos fingindo ser caipira dissesse:
"Se um dia nós se gostasse
Se um dia nós se queresse
Se um dia nós se empareasse
Se juntim nós dois vivesse
Se juntim nós dois morasse
Se juntim nós dois drumisse..."
E se assim como numa fantasia, saissem os dois, abraçados, cantando algo como :
"E se, de repente
A gente não sentisse
A dor que a gente finge
E sente
Se, de repente
A gente distraísse
O ferro do suplício
Ao som de uma canção
Então, eu te convidaria
Pra uma fantasia
Do meu violão."
Mas, isso tudo só se ela existisse. Se ela ligasse. Se ela chegasse. Se ela fosse. Se ela existisse.

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