sábado, 4 de julho de 2015

Maju, racismo e a rede Globo




O caso da  jornalista Maria Julia Coutinho, vítima de comentários racistas, em uma publicação na página do Facebook do Jornal Nacional na noite de quinta-feira causou revolta em muitas pessoas. Os comentários publicados durante a madrugada por leitores da página e expectadores do jornal foram extremamente pejorativos e racistas.

As mensagens negativas foram removidas do perfil do jornal pela equipe que administra a rede social. Em contrapartida, outros usuários, revoltados com os comentários preconceituosos, saíram em defesa da jornalista e se manifestaram rebatendo os comentários no post

Durante décadas, a rede Globo de televisão não usou um ator ou atriz negra como protagonista em seus programas, novelas. Indiscutivelmente essa rede comunicação moldou o olhar, a estética brasileira. Quando se pensa em um personagem de televisão de nossa infância, nos últimos 30, 40 anos, este certamente será branco ou branca.
Faça um exercício simples: procure lembrar de algum personagem de novela da Globo, o qual fez muito sucesso. De quem lembrou?

O resultado disso, de uma política racista quase que estatal, posto que o que a "Vênus Platinada" criou como elemento cultural foi incorporado nos livros didáticos nesse país, é uma população que estranha personagens, atores, ou apresentadores negros ou negras, como se estivéssemos na Islândia. O racismo demonstrado contra uma profissional negra na rede Globo é nada mais do que o reflexo de séculos de racismo social, de invibilização do povo negro neste país.

Um exemplo: Se Debret, e a Missão Artística Francesa não tivessem pintado a população negra no século 18, esta não seria mostrada nos livros didáticos hoje. E naquele tempo já houve reclamações por partes da dita elite cultural, por terem mostrado a maioria da população, da época, que eram os escravos negros. em seus diversos momentos.
E existem muitos outros exemplos de como o povo negro foi alvo de exclusão, de invizibilização. Na publicidade, nas artes plásticas.

Maju e as ofensas racistas por ela sofrida não são algo a se espantar. Elas acontecem todos os dias há 400 anos, nas cidades brasileiras onde a força de trabalho escrava foi usada. Milhares de mulheres negras recebem ofensas racistas, sofrem violências de cunho racista e sexista. Infelizmente, a jornalista Maria Julia Coutinho não é uma vítima isolada

A profissional atingida só recebeu um das consequências do racismo dessa rede de comunicação, que tem como Diretor Geral de Jornalismo e Esportes da TV Globo Ali Kamel, que publicou um livreto chamado "Não somos racistas".

Os ataques racistas no Facebook talvez sirvam para mostrar que sim, somos racistas. E que a rede Globo tem muita culpa na construção desse processo.

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